A linha invisível que une uma volta e outra chama-se ‘trajetória’, é aquilo que eu faço com o meu eu – ou com os ‘eus’ existentes aqui dentro.
A nova volta me fez fazer as pazes com a solidão. Parece taciturno dizer isto, no entanto, a solidão quando bem afeiçoada de si, é solar. Tão solar que ilumina pensamentos antes obscuros, pensamentos carentes de claridão.
Ao ficar mais velha (olha lá, nem tão velha) a gente entende que o tempo é rei de muita coisa, que pessoas a quem a gente jurou estar sempre próximo, mal sabemos onde estão enfiadas, que metas feitas há 2 anos atrás não foram cumpridas e que, elas precisam de mais tempo do que aquilo que a gente estipula, imagina. Paciência também é chave.
Coragem é uma virtude difícil de trazer pro peito, ela quer demais, exige demais, ela quer mudança de dentro pra fora e, é tão difícil mudar quando a gente se acomoda, a vigésima terceira volta teve que colocar a mão no quadril e rebolar (suar é bem mais verdade) pra “segurar” essa danada e tentar fazer bom uso dela, pelo menos até ela não escapar novamente [porque ela vai].
Mania tola essa nossa de se enfiar em espaços que não são nossos, em ficar próximo de gente nada a ver com a gente, em cantar bem-me-quer mal-me-quer quando a gente sempre sabe quando se quer – sinônimo de amor é atenção [seja ele qual for].
(Abro um parêntesis aqui para o “gente nada a ver com a gente”, fuja dessas pessoas em qualquer situação) Se tem algo que também aprendi nesse ciclo, é que ficar próximo de gente que agrega positivamente é uma dádiva sem tamanho. Gente que nos ensina a ser melhor, a crescer, a se tornar uma versão mais apurada, esse é o tipo pra deixar ao nosso ladinho, à esquerda, de presente.
Aprendi que enquanto alguns já são selva, eu ainda estou crescendo num vasinho, e que a palavra saudade tem a sua densidade de existência tupiniquim, intensa e bonita.
É muito verdade isso de tornar-se um vinho com o tempo, as exigências também aumentam por aqui, o gosto fica mais rebuscado, quando me imaginaria lendo Foucault, Sartre e de Beauvoir? Quando me imaginaria ouvindo Mozart? Quando me imaginaria dando mais atenção à arte? Kahlo, Degas, Monet? E, ao mesmo tempo, essa nova eu quer abraçar a cultura local, os pequenos detalhes, o que me faz ser dessa terra. A nova eu também quer experimentar, muita coisa, muita coisa. Se conseguirei? Não sei, também não há mais pressa, há “O tentar”, é isso que há por aqui e, julgo eu, isso é o mais importante.
Sei que embora esse mês um teste de facebook tenha me lembrando que as minhas ideias de mundo se assemelham as do Schopenhauer – pessimista em ação – também sei que, esse meu pessimismo ainda é um aliado e tanto nas decisões, e no fim, me dou bem com esse sentimento, sabendo dos seus contras…
Ainda sou do tipo que vez ou outra recita o pai nosso em prece, quisera ser livrada de todo o mal, também faço preces por aqueles a quem não conheço, mas sei que existem, é só que… É uma oração tão simples e tão bonita, gosto de pensar em Deus como Rubem Alves descreveu “pense no mar como uma metáfora de Deus… pense em Deus como um oceano de vida e bondade.”, o mar! O mar é mistérioso, belo, incontrolável, apaziguador… Noutras noites as únicas palavras que ecoam em minha mente me dizem que a terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica, que é um acidente de geometria e ótica e, ainda assim, o único lar que temos, eu oro Sagan às vezes. E ainda não sei como sou assim.
Sei que perante a lei eu sou aquilo que chamam, como é que é… Ah, sim… Jovem-adulto, poderia ter resumido esse texto nessa definição, deixar em aberto as infinitas possibilidades de ser essa espécie ‘híbrida’ – é assustador e delicioso.
Mal posso esperar para completar a vigésima quarta volta, o que ela trará? Sei que esta completa hoje deixou um monte de dever de casa, espero eu não ser uma aluna indisciplinada, quero resolver tais questões e aprender com elas.
Aprender, é isso que chamam de aniversário?!
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